Você provavelmente já ouviu ou disse frases como: “Aqui em casa não se fala palavrão!”, “Respeite o seu avô, use ‘senhor’ ao falar com ele, menino!” “Não precisa me chamar de ‘senhor’ para mostrar respeito”. Esses são alguns exemplos de política de língua familiar, que se refere, basicamente, às escolhas que os pais fazem sobre o uso das línguas que fazem parte da dinâmica familiar. É a escolha de qual língua usar, com quem, em que situações e quando.
A política de língua familiar desempenha um papel crucial nas famílias que vivem no exterior e pode ser determinante na formação da identidade cultural e étnica dos filhos bem como moldar as conexões emocionais nas relações familiares.
Quando uma família se muda para um país estrangeiro, muitas vezes é confrontada com a necessidade de tomar decisões sobre quais línguas serão faladas em casa. Essas decisões podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo o contexto linguístico do país anfitrião, o nível de proficiência dos membros da família em diferentes idiomas, a preocupação de manter vínculo com a família estendida no país de origem e as aspirações educacionais e profissionais para as crianças.
A língua de herança tem um papel fundamental na manutenção dos vínculos familiares e é necessário ser intencional e constante para garantir um espaço para ela na rotina da família.
Por exemplo: Uma família pode escolher sempre falar a língua de herança em casa e a língua majoritária fora de casa ou quando recebe visitas. Outra, pode escolher usar os dois idiomas que conhecem em todo o tempo e em qualquer lugar.
E se houver mais línguas envolvidas, uma na escola e outra na comunidade? Nesse caso é preciso pensar intencionalmente como administrar o uso desses idiomas na rotina familiar.
Vale lembrar que essas escolhas podem ser repensadas e ajustadas conforme a prioridade da família. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não são apenas os pais que fazem essas escolhas, os filhos também são agentes nesse processo mesmo quando os pais incentivam o seu uso e de forma consistente. Não raro, os filhos param de falar a língua de herança, se recusam a usá-la em público ou passam a interagir apenas na língua da maioria.
Mas você já parou para pensar nos fatores que influenciam essas escolhas? Elas geralmente estão relacionadas às crenças sobre as línguas em questão e ao valor atribuído a cada uma delas. Por exemplo, se os pais acharem que é mais importante que o filho aprenda o inglês em detrimento do português porque dará a seu filho melhores oportunidades de trabalho no futuro, maior esforço será dedicado ao uso desse idioma.
Da mesma forma, se os pais tiverem tido experiências ruins no seu país de origem a ponto de não quer manter nenhum vínculo com esse país, provavelmente vai passar isso para o seu filho e não criará nenhum vínculo com a sua língua e cultura de origem. Os filhos, ainda que inconscientemente, podem escolher usar ou não um idioma por diversas razões como vergonha de usar uma língua que só a sua família usa, medo de falar errado ou não ver sentido em usá-la com alguém que fala outro idioma.
Na sua família, qual política de língua foi adotada? O que foi levado em consideração ao fazer essa escolha?